A Europa sempre foi uma enorme manta de retalhos, com uma imensidão de povos com línguas, religiões, crenças, etnias, culturas, hábitos, todos diferentes entre si.
O ser humano por natureza é intolerante, tem pouca empatia com o outro, tem dificuldade em aceitar/compreender povos diferentes de si. As pessoas preferem ter à sua volta semelhantes a si, possivelmente é o medo do desconhecido ou do diferente.
Foi essa intolerância à diferença e aos povos que se acham superiores a outros, motivou inúmeras guerras na Europa, durante séculos. Sobretudo por motivos religiosos.
Fragmentação
A história tem comprovado, que os países com vários povos, primeiro tornam-se ingovernáveis e depois acabam sempre numa guerra civil.
A solução mais fácil para o problema, foi a fragmentação, a criação de países mais pequenos, cada povo se autodetermina. Foi assim que a Europa encontrou uma certa paz.
Mas para que a fragmentação seja uma solução, a divisão do território deve corresponder à localização dos povos. Por isso, em muitos casos falhou em África, porque as divisões foram feitas com régua e esquadro pelos colonizadores, sem respeitar os povos existentes no terreno. A divisão territorial não corresponde à divisão dos povos.
Outro caso gritante é dos curdos, é um povo que ocupa um território correspondente a 4 países, Turquia, Irão, Síria e Iraque.
No Iraque ainda temos outro problema, apesar da maioria ser muçulmana, mas divide-se em várias correntes (xiitas, sunitas e yazidis) na qual se odeiam entre si. As diferenças entre sunitas e xiitas têm sido uma fonte de conflito no Iraque ao longo da história.
Já Saddam Hussein dizia que a ditadura é a única maneira de tornar o Iraque governável e parece que o tempo lhe veio dar razão.
Se compararmos este mapa da Europa de 1648, com o mapa de hoje, houve mudanças significativas, sobretudo no centro e leste.
A mudança mais recente aconteceu na Jugoslávia, o fim da guerra resultou na fragmentação em 7 países (Bósnia e Herzegovina, Croácia, Kosovo, Montenegro, Macedónia do Norte, Sérvia e Eslovénia). Só assim foi possível uma relativa paz naquela área geográfica.
Por vezes a diferença entre os povos é tão subtil, como é o caso dos nossos vizinhos espanhóis. São vários povos com pequenas diferenças culturais e linguísticos, que durante séculos foram forçados a uma união. Nem mesmo uma severa ditadura conseguiu destruir essas raízes.
A diferença é tão subtil, que não compensa o sacrifício de uma guerra civil, por isso, ainda se tem mantido a união do reino. A vontade dos povos de serem independentes é baixa, com a exceção dos bascos e dos catalães.
Outro país com alguns problemas é a Bélgica, onde é recorrente o problema de formar um governo.
Em toda a história da Europa, foi a divisão em pequenos países que nos trouxe paz à Europa.
União Europeia
Antes da União Europeia, quando eram apenas acordos económicos, os países mantinham plena independência, mas tudo mudou com a União Europeia, com uma ideia de uma federação. Cada vez mais as leis aprovadas em Bruxelas, limitam e condicionam as políticas internas, os governos estão extremamente limitados de poder, os países estão a perder a soberania.
Enquanto a UE era com poucos países e todos localizados perto entre si, compostos por povos semelhantes, tudo funcionava bem.
Com a constante entrada de novos países membros, a UE expandiu para o leste europeu, composto por povos cada vez mais diferentes do oeste.
Na constituição da UE, para haver acordos é necessário que todas as partes concordem, basta um não querer, trava todo o processo. Assim, com uma União composta por povos muito diferentes entre si, cada vez será mais difícil existir uma unanimidade de todos. A UE vai entrar numa paralisia legislativa e de governança.
Foi bem notório com o finca-pé da Hungria em relação aos apoios financeiros/militares à Ucrânia para a guerra.
Com a futura entrada de países ainda mais a leste, vai complicar ainda mais, será quase impossível existir uma unanimidade, porque são dezenas de países muito diferentes.
Além de problemas de política externa, vamos começar a ter problemas nas políticas internas.
Fundo de Coesão
Com a adesão de países do leste, mas sobretudo com a entrada da Ucrânia, irá provocar uma profunda alteração nos fundos de coesão. Os países mais pobres, como Portugal, vão receber muito menos fundos ou possivelmente vão passar a ser contribuidores líquidos. Estes atuais membros dificilmente vão aceitar a adesão de outros países sem contrapartidas.
Muitos destes futuros membros ainda têm muitos resquícios da influência soviética, que poderá ser problemático em futuras decisões, como já está a acontecer com a Hungria. Normalmente partidos de direita, nestes paises tem muita influência russa, muitas vez do gás russo é usado como um arma política.
Migrações
A migração possivelmente é o maior problema que a UE enfrenta hoje em dia. Os fluxos migratórios são enormes, muito superiores ao que os países conseguem suportar. Quando um país não consegue integrar dignamente esses estrangeiros, mais cedo ou mais tarde vai haver problemas.
O problema é que qualquer medida que um governo faça, que limite coloque limites ou restrições de imigrantes, é considerada como uma política racista ou fascista pela agenda woke.
A agenda wake está a colocar este problema como um simples caso de racismo, mas não é verdade. Isto não tem nada a haver com racismo, mas sim acolher essas pessoas com dignidade, é vergonhoso o que está a acontecer em Odemira e em muitos outros pontos do país, onde chegam a viver mais de 20 pessoas numa única casa. Não existe habitação, não existe integração, não se apreende a língua, muito são explorados, é uma escravatura moderna.
Se nós não estamos a conseguir acolher essas pessoas com dignidade, temos que colocar um travão, o problema é que qualquer medida que seja proposta é de imediato considerada como racista, xenófoba ou fascista. Os políticos alimentaram a agenda woke, agora estão a ficar refém da própria agenda woke. Como estão com medo de colocar medidas restritivas, com medo de ser conotados como fascistas, não fazem nada, a imigração continua a aumentar e está a ficar descontrolado.
Em alguns países já estão a gerar graves problemas de segurança, provocando um forte crescimento de partidos políticos de extrema direita, que na sua natureza são anti-europeístas. Em alguns países esses partidos já ganharam eleições, vão criar leis mais restritivas com a imigração, indo em contra as políticas europeias, criando um conflito.
Como a “distribuição” não é similar entre países e os problemas sociais gerados por esses imigrantes são diferentes entre os países, vai gerar uma enorme discussão e uma divisão, nunca chegarão a um consenso.
Crise Climática
A Crise climática, ou pseudo crise é outro foco de tensão que divide a Europa. Mais um assunto fortemente influenciado/contaminado pela agenda woke. Os políticos europeus, em especial dos eurodeputados estão a começar a perder a racionalidade, nesta fixação pelo ambiente, está-se a deixar levar por radicalismo.
O alarmismo climático está a destruir a produção elétrica e a indústria no geral na Europa. Estamos a chegar a uma estupidez sem precedentes, estamos a criar restrições/limitação à produção agrícola.
Ao reduzir a produção alimentar, os preços vão aumentar inevitavelmente e os pobres vão comer o quê? Ou as pessoas morrem à fome ou teremos que importar de outros países fora da Europa, mas para importar comida vamos aumentar a pegada ecológica, vamos poluir muito mais através de transportes, por isso eu digo, estamos a entrar num caminho de irracionalidade.
Certamente alguns países países vão entender a tempo que estamos a caminhar para algo muito errado e vão travar, mas fazer isso, vão entrar em conflito com as políticas comuns.
Isto vai fraturar a Europa por completo.
Banco Central
Os problemas também vão alastrar para a Zona Euro, em específico no BCE, vai acentuar a diferença entre os países frugais e os restantes. Liderado pela Alemanha, os frugais são países onde existe um maior rigor financeiro, são muito mais rigorosos. Os alemães detestam a inflação, ao contrário de parte dos países que estão altamente endividados, que vão necessitar da inflação da moeda para diminuir o endividamento.
A Europa sempre foi comandada pela Alemanha e França, sempre estiveram aliados, só que o alto endividamento dos franceses, podem fazê-lo mudar de lado e criar uma ruptura.
Além da França, a Itália e a Espanha também estão muito endividados e têm altas cargas fiscais, só têm como única solução, a inflação da moeda. Aqui está um ponto crítico.
A concordância nas políticas monetárias no banco central será cada vez mais difícil, num caso limite, a Alemanha, os Países Baixos e talvez outros frugais vão sair do euro e criar uma nova moeda comum, ou simplesmente voltam para as suas moedas nacionais.
Eu acho que este cenário é inevitável, sem a Alemanha, o euro será severamente desvalorizado, até ao seu colapso. Possivelmente a moeda não durará mais de 10 anos.
Conclusão
A Europa está a trilhar o caminho oposto da fragmentação. Se a fragmentação nos trouxe a paz, a agregação vai nos trazer guerra. Certamente não vai ser uma guerra física mas sim a implosão da própria UE.
Eu sempre fui um europeísta, continuo a achar que a UE foi boa para Portugal, especialmente o euro, mas as políticas comuns estão a ir longe demais.
A moeda deu-nos muito estabilidade, algo que nunca tivemos na nossa história recente.
Foi o euro que amparou a queda na crise da dívida soberana, sem ele a dor teria sido bem pior. Num cenário sem a moeda euro, uma das primeiras medidas no combate à crise de 2011, a troika iria exigir a desvalorização da moeda, assim de um dia para o outro, a nossa dívida dispararia e geraria uma enorme inflação.
Recordando que na época da crise, houve um “enorme aumento de impostos” que afetou transversalmente a sociedade, mas os mais severamente afetados foram os que ficaram desempregados, aqui sim a crise foi dura.
Caso existisse uma inflação da moeda seria todos fortemente afetados, como aconteceu nestes dois últimos anos. A inflação é o imposto mais duro e mais cego que existe. Onde os pobres são as principais vítimas do sistema.
Foi graças ao euro que tivemos 2 décadas com inflação baixa, com excepção dos últimos 2 anos. Eu sempre fui um forte crítico à impressão de dinheiro que o BCE tem realizado, mas tenho que reconhecer que essa impressão é muito inferior à que seria realizada, se Portugal fosse “independente”.
Se Portugal sair do Euro será desastroso para o país, socialistas como somos, os governos vão imprimir dinheiro de tal maneira, rapidamente seremos a Argentina da Europa. O problema é que eu acredito que isto vai acontecer, ou com a saída voluntária do euro ou o euro vai colapsar.
Eu acredito que vamos ter um futuro um pouco sombrio, pela frente.