Porque escreves tanto?
É uma boa pergunta, eu apesar de não ter o dom para a escrita, devido à minha dislexia, quem ler algo meu, vai perceber. Mas eu tenho a necessidade de escrever, porque dá-me tranquilidade, alguma paz, é como fechar um capítulo do meu pensamento.
Eu tenho um pensamento muito compulsivo, assim que inicia algo, o meu cérebro não pára enquanto não chegar a uma conclusão, certa ou errada não interessa, tenho que chegar a uma conclusão. O meu cérebro deve libertar muita dopamina e o meu corpo está viciado, estou sempre a pensar em algo compulsivamente, assim que acabo algo, inicia logo outro.
Eu costumo dizer, o meu cérebro está cheio de caixinhas, abro-as, fico a pensar nelas por um período de tempo e depois volto a fechar. Por vezes mais tarde, volto a abrir, porque o meu pensamento mudou ou está mais aprofundado, naquela área. E o escrever é muito bom para isto, para fechar as caixas e para mais tarde reler o texto, para eu perceber o desenvolvimento/evolução do meu pensamento.
Mas existem caixas, na qual eu evito abrir, são as minhas caixas de pandora. São pensamentos que não chego a alguma conclusão, parece que ficam num loop interminável, chegam a ser cansativos, a melhor solução é substituir por outro.
Desde jovem que descobri que ao escrever, além de ajudar na articulação do pensamento, permite-me focar apenas numa ideia e assim chegar a uma conclusão mais rápido, permite “fechar” essa ideia. Assim evito estar a pensar em diversos assuntos ao mesmo tempo, sendo por vezes, sendo quase esquizofrénico a quantidade de pensamentos de diferentes áreas que eu penso ao mesmo tempo.
Um bom exemplo, é que neste preciso momento que estou a escrever este texto, eu estou a escrever um outro e também tenho outro em fase de revisão, que nos próximos dias será publicado. E ainda tenho mais 4 tópicos que eu quero colocar no papel.
Eu publico vários aqui nos blog, mas isto é apenas uma parte, porque muitos eu nunca os tornei públicos. Agora já percebem porque eu escrevo, por isso não me importo que ninguém os leia.
Já muitas vezes me questionei se deve ou não publicar um certo texto, mas sempre que eu tenho algum medo da interpretação que as pessoas possam ter sobre o assunto, eu prefiro não tornar público. Porque se eu tiver receio, vou inconscientemente me autocensurar, logo aquele texto não representa a verdade, o meu pensamento. Por isso nestes casos, eu prefiro mantê-los privados.
Dislexia
Apesar de oficialmente nunca me ter sido diagnosticado como disléxico, mas tudo indica que seja, os sinais são muitos.
A primeira vez que eu ouvi falar da dislexia foi a uma professora de português, já tinha 18 anos, era adulto. Ela perguntou se eu não sofria de dislexia, eu na altura não fazia a mínima ideia o que era. Tenho agora 40, na época o ensino e a sociedade era muito diferente de agora. Se fosse agora, possivelmente seria diagnosticado cedo e acompanhado.
Esta professora de português, nem imagina a influência que teve em toda a minha vida, em termos de ensino não mudou muito, era demasiado tarde para mudar algo. Mas para a minha vida mudou muito, finalmente eu percebi o que tinha, durante anos soube que existia alguma coisa, mas nunca soube o quê. Assim permitiu perceber melhor o meu problema e arranjar estratagemas para minimizar as suas consequências, apenas minimizar porque não existe solução.
Durante todo o ensino, eu sempre fui um aluno muito frustrado, os resultados nos exames/testes (e notas) sempre foram muito inferiores aos meus conhecimentos. Eu não sou sobredotado, mas sendo honesto, considero-me inteligente, só que os resultados escolares eram maus, nunca percebia o porquê, o ensino frustrava-me.
Lembro-me perfeitamente, naquelas conversas de alunos após os exames, a analisar as respostas, naquele momento eu tinha consciência que sabia a maior parte das respostas, iria ter uma boa nota. Só que quando recebia a correção do professor, era sempre muito inferior ao que eu esperava.
Esta frustração aconteceu durante todo o ensino, desde da escola primária até ao secundário, para minimizar a frustração, eu sempre dizia aos meus colegas e aos meus pais que os exames não me corriam muito bem ou os repetitivos “mais ou menos”.
Mesmo o ensino nunca percebeu o meu problema, a época era outra e tratava-me como um burro, estava em constante aulas de apoio.
Só mesmo quando repeti a disciplina de Português B no 12º ano, aquela professora deu um “rosto” ao problema, até aquele momento nunca tinha ouvido falar de dislexia, li muito sobre o assunto e a professora estava correta. Além de “diagnosticar” o problema, deu um método para minimizar o problema e concluir a disciplina. A ideia dela foi, em vez de responder a todas as perguntas dos exames/testes, é preferível responder a menos perguntas e revisar várias vezes as respostas. Este método tem um problema, não permite ter grandes notas, como eu não respondia a todas as perguntas, o máximo que eu poderia ter era 14 ou 15. Mas permitiu ter uma nota para concluir a disciplina. Isto colocava-me sempre em desvantagem em relação aos meus colegas, para fazer um exame completo, necessitaria de mais de 40% de tempo. O pior é que isto não se restringe apenas ao ensino, é em tudo na minha vida, eu sou muito mais inteligente que aquilo que demonstro.
Qualquer coisa que eu escrevo é obrigatório reler várias vezes e cada vez que leio encontro novos erros, especialmente falta de palavras. É algo inexplicável a quantidade de palavras que eu “como” ao escrever. O mais estranho, eu escrevo mal (faltam palavras) mas quando leio, às vezes encontro as falhas mas muitas vezes não encontro as falhas, eu “leio” as palavras como lá estivesse escritas mas não estão. Eu posso ler 10 vezes e de certeza ainda tem erros, a minha escrita (tanto à mão, como no pc), a mão não consegue acompanhar a velocidade do pensamento, existe uma enorme descoordenação entre os dois.
Ao ler texto escrito por outros também tenho muitas dificuldades, porque invento muito, um erro comum é ler apenas apenas a primeira sílaba de uma palavra e inventar o resto, tento adivinhar, mas isto é tudo inconsciente. Eu cometo muitos erros ao ler, por isso eu detestava ler em voz alta na escola. Os problemas não ficam só por aqui, vai mais longo mas estes são os mais graves porque criam muitas limitações.
A dislexia é um mistério.
Este é seguramente o texto mais pessoal que eu alguma vez escrevi neste blog, durante todos estes anos nunca publiquei publicamente dados nem informações pessoais, mantendo o OpSec.
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